"Assim como Deus separou a noite do dia, liberta meu corpo da má companhia, pelos poderes de Deus e da Virgem Maria. Saravá, meu pai!"
Era assim que o maior radialista de todos os tempos no Pará iniciava seu programa. De uma família de classe média, com seu estilo agressivo,
irônico e inteligente, mas às vezes escrachado, Paulo Ronaldo Mendonça de Albuquerque, ou somente Paulo Ronaldo, tornou-se o
apresentador mais popular (e mais amado) de sua época. Iniciou a carreira tanto
no rádio como no jornalismo impresso na década de 60. Entre suas primeiras
reportagens para o jornal A Província do Pará (ligado aos Diários Associados),
depois de passar pouco tempo no noticioso “O Dia” estava à mudança dos moradores
do antigo igarapé das almas por causa das obras da Doca de Sousa Franco.
Paulo Ronaldo assumiu na Rádio Marajaoara AM o programa
policial “Patrulha da Cidade”, que surgiu apresentado por Advaldo Castro e
Wladmir Conde apresentando as mazelas sociais. Mas foi na apresentação de Paulo
que o programa se tornou um fenômeno. Ali ele também apresentou o “Paulo
Ronaldo Show”, que era uma mistura. Tinha os quadros hilariantes, tinha também
a crônica do dia, tinha a prece, essas coisas todinhas e tinha o programa
policial. Tinha a “Dama da Cidade”, a “Ronda da cidade”.
Fazendo escola, até hoje
No final da década de 70, ao se transferir pra a Rádio
Guajará, Paulo Ronaldo levou a atração para a nova casa, menos “A Patrulha” que
era da Marajoara (onde é apresentada até hoje). Em novo prefixo, Paulo criou o “Alerta
Geral” que era um programa policial mais leve, que também tocava música.
Um dos maiores ícones do rádio paraense e que serviu de
inspiração para muitos radialistas das gerações seguintes. Ele fez escola,
porque ele deixou... Hoje tem muitas pessoas que... Tem o Adonai do Socorro, o
Anaice - o Anaisse começou em 79 ou 80 conosco na Guajará – tem o Amauri
Silveira, tem Vicente Gama.
Colega de trabalho de Paulo Ronaldo na época, José
Travassos dizia com respeito das qualidades do apresentador: “Ele podia não ter voz, mas o que botava para
frente era tão grosso, tão forte, que cativava a cidade”. O mesmo
carinho era compartilhado por Iracema oliveira, secretária (apelidada de
secretária do diabo) e amiga de Paulo Ronaldo. Ela contava que até mesmo os
bandidos gostavam do apresentador. Paulo foi um repórter tão amado, muito
querido até pela malandragem. Devido ele ter muita vivência no acampamento_
como afirmou Iracema de Oliveira_ então, os bandidos quando ele existia um
crime tal ele dizia: “Chama fulano de tal que eu quero falar”. Então, os
bandidos vinham se entregar para ele, coisa que nunca se viu. Os bandidos
mesmos vinham se entregar porque sabiam que com ele, não ia ter espancamento,
não ia ter nada. Então, ele entregava os bandidos à polícia. Às vezes, alguns
policiais ficavam com raiva dele, porque ele conseguia bloquear, conseguia
furar tudo.
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| Paulo Ronaldo entrevistando moradores na comunidade do Igarapé das Almas, onde hoje é a Doca de Souza Franco. |
Últimos momentos
A popularidade de Paulo Ronaldo era tanta, que nas
eleições de 1970 para a renovação da Assembleia Legislativa, ele foi eleito
pelo MDB o candidato mais votado, com 13.780 votos.
Mesmo estando a imprensa constantemente ameaçada pela censura, Paulo Ronaldo
manteve seu jornalismo crítico, desafiando o regime militar e, por isso, foi
preso duas vezes. A primeira, sob a acusação de insuflar a greve dos motoristas
e, a segunda, por denunciar as torturas e assassinatos praticados pelo
esquadrão da morte. Paulo Ronaldo tinha como provas o testemunho do caseiro do
lugar onde eram praticadas as torturas e fotos de pessoas espancadas. Esses
documentos desapareceram na ocasião do processo. Ele ficou seis meses
encarcerado no quartel da Polícia Militar, uma experiência da qual Paulo
Ronaldo nunca se refez, segundo a secretária Iracema Oliveira. Tal prisão
provocou uma imensa revolta popular.
Um ataque cardíaco o fulminou durante uma pelada de futebol
de fim-de-semana em um campinho da Avenida Nove de Janeiro. Como assiduo frequentador de umbanda Paulo subiu entre
atabaques e turíbulos no dia 21 de setembro de 1980, uma das datas em que se
comemora o dia do radialista.


